
O estado de Mato Grosso do Sul passou a integrar a lista de regiões monitoradas por órgãos federais no combate à infiltração do crime organizado no setor de combustíveis. Um levantamento inédito, coordenado pelo Núcleo Estratégico de Combate ao Crime Organizado, revelou que quatro postos de combustíveis sul-mato-grossenses estão sob investigação por possíveis vínculos com facções criminosas. No total, são 941 estabelecimentos suspeitos espalhados por pelo menos 22 estados brasileiros.
Investigação Nacional e Ações Integradas
A operação envolve o Ministério da Justiça e Segurança Pública, Polícia Federal, Receita Federal, Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e o Ministério de Minas e Energia. O foco é desmontar esquemas sofisticados de lavagem de dinheiro, evasão fiscal, uso de laranjas e adulteração de combustíveis.
A investigação mapeou postos cujos proprietários possuem histórico criminal ou envolvimento em ações policiais, como roubos de cargas, fraudes e esquemas de fachada.
Facções com Atuação em Rede Nacional
De acordo com informações do levantamento, grandes facções como o PCC (Primeiro Comando da Capital), Comando Vermelho e a Família do Norte estão entre as organizações que utilizam redes de postos como fachada para movimentações ilícitas. Também foram identificados indícios da presença de milícias nesse esquema.
Embora estados como São Paulo e Goiás concentrem a maioria dos estabelecimentos suspeitos, Mato Grosso do Sul se destaca por sua posição estratégica na rota do tráfico, com fronteiras com o Paraguai e a Bolívia.
Postos: Um Ambiente Ideal para Esconder Dinheiro Sujo
A grande circulação de dinheiro em espécie e o alto volume financeiro diário fazem dos postos de combustíveis um cenário ideal para esconder receitas ilegais. O setor, devido à sua movimentação constante e abrangência nacional, torna-se extremamente atrativo para operações de lavagem de dinheiro.
No Mato Grosso do Sul, as investigações se concentram especialmente em áreas de fronteira e locais com movimentação considerada fora do padrão para o setor.
Nova Estratégia de Combate
O governo federal já planeja unificar as diversas apurações regionais em uma única investigação de abrangência nacional, buscando identificar redes criminosas com atuação simultânea em várias partes do país. A intenção é aumentar a efetividade das ações e impedir que essas organizações se adaptem com facilidade às mudanças de território.
Prejuízo Bilionário aos Cofres Públicos
O avanço das facções no setor de combustíveis também tem impacto direto na economia. Empresários do setor legal denunciam uma concorrência desleal com postos que conseguem praticar preços abaixo do mercado graças à sonegação de impostos.
Segundo um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o lucro do crime organizado com combustíveis e lubrificantes pode ultrapassar R$ 61 bilhões por ano — um valor significativamente superior ao estimado com o tráfico de cocaína, que gira em torno de R$ 15 bilhões. As perdas para o Estado, somente em arrecadação, chegam a R$ 23 bilhões anualmente.
Caso Semelhante em Campo Grande
Em 2020, uma operação realizada em Campo Grande revelou um esquema semelhante. Postos de combustíveis eram utilizados para lavar dinheiro e realizar saques em espécie por meio de abastecimentos fraudulentos, integrando-se ao núcleo de uma organização criminosa local.
Fonte: https://www.campograndenews.com.br/brasil/cidades/ms-entra-na-mira-com-4-postos-investigados-por-ligacao-com-crime-organizado