
O Centro de Convenções do Pantanal, localizado no Porto Geral de Corumbá, foi o cenário da segunda audiência pública que tratou da concessão da Hidrovia do Rio Paraguai. O evento, realizado no dia 10 de abril, ocorreu de forma híbrida (presencial e online) e contou com a presença de representantes civis, militares e ambientais.
Este é o primeiro processo de concessão de uma hidrovia no Brasil a ser discutido em audiência pública, sob a coordenação da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). A expectativa é de que o leilão ocorra ainda este ano, com a operação da empresa vencedora prevista para iniciar em 2026.
O que prevê o projeto da concessão
A proposta inclui uma série de melhorias na infraestrutura da navegação fluvial, como a realização de dragagens, balizamentos e sinalizações adequadas, além da construção de galpões industriais, aquisição de embarcações dragadoras e instalação de sistemas de monitoramento ambiental e hidrográfico.
O plano também visa implementar sistemas modernos de gestão do tráfego, como o Vessel Traffic Service (VTS) e o River Information Service (RIS), que devem ser implantados nos primeiros cinco anos de contrato.
A concessão está prevista para durar 15 anos, com possibilidade de renovação por igual período. O trecho a ser entregue à iniciativa privada compreende cerca de 600 quilômetros, entre o Canal do Tamengo, em Corumbá, e a foz do Rio Apa, em Porto Murtinho.
Crescimento da movimentação de cargas
A expectativa é de que, com a concessão, o volume de cargas transportadas pela Hidrovia do Rio Paraguai cresça expressivamente. A previsão para 2030 é de uma movimentação entre 25 e 30 milhões de toneladas, um salto considerável em relação ao volume atual. Em 2023, o transporte alcançou 7,95 milhões de toneladas — um aumento de mais de 70% em comparação com o ano anterior.
Seca extrema levanta alertas ambientais
Apesar das projeções otimistas em relação ao desenvolvimento econômico e logístico, o projeto gera preocupações entre especialistas em meio ambiente. Um dos principais pontos de tensão é o risco de impactos provocados por longos períodos de estiagem.
Estudos de climatologistas e hidrólogos indicam que a região pode enfrentar anos consecutivos de seca severa, como já ocorreu nas décadas passadas. Isso levanta questionamentos sobre a viabilidade da navegação contínua durante esses períodos críticos, especialmente considerando a intenção de operar a hidrovia durante todo o ano.
Dragagens em debate
Outro ponto polêmico está relacionado aos planos de dragagem. Inicialmente, falava-se em três áreas para intervenção. Com o avanço dos estudos, o número saltou para 33 pontos — ainda sem definição clara. Especialistas ressaltam a necessidade de análises aprofundadas para avaliar os possíveis impactos ambientais mesmo em dragagens classificadas como “de manutenção”.
Há também preocupações sobre a aquisição de barcaças de maior porte, que poderiam exceder os limites permitidos em determinados trechos do rio, exigindo revisão e fiscalização rigorosa por parte das autoridades responsáveis.
Fonte: https://www.diarionline.com.br/index.php?s=noticia&id=150284