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O maior roedor do planeta é conhecido por ser adorável, tranquilo e gordinho, mas também despertou preocupações nos últimos anos devido à sua associação com a febre maculosa — estamos falando da capivara, um mamífero exclusivo da América do Sul que conquistou admiradores não apenas no Brasil, mas em toda a internet. Curiosamente, elas também são muito apreciadas pelos japoneses, que as importam de nosso país para seus zoológicos.

Parentes de pacas, preás, cutias e porquinhos-da-índia, as capivaras possuem o nome científico de Hydrochoerus hydrochaeris (que traduzido significa “porco d’água”), podendo atingir até 1,3 metro de comprimento na fase adulta e pesar entre 35 e 66 kg. O nome popular, em tupi-guarani, significa “comedora de capim”. Elas são realmente adoráveis, mas será que apenas isso justifica sua fama?

Neste artigo, iremos explorar algumas características dessa sensação entre os roedores, desde fatos sobre sua biologia e habitat até curiosidades sobre sua história e comportamento. Para aprofundar no assunto, o Canaltech conversou com Fábio Hosoi, veterinário formado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ USP).

Grande parte do carisma desses grandes porquinhos-da-índia se deve à sua aparência relaxada e tranquila — seu olhar de sono constante é um excelente exemplo disso. Em termos biológicos, a calma é parte de seu estilo de vida, uma vez que o animal é silencioso e furtivo, geralmente se movendo devagar e de maneira calculada.

O comportamento tranquilo das capivaras faz com que várias delas sejam dóceis, embora suas “personalidades” variem. Algumas não se importam com a presença de humanos e até se aproximam, além de interagir com outros animais, incluindo predadores.

Elas já foram vistas descansando ao lado de jacarés e passando pela cômica, mas frustrada, tentativa de serem capturadas por um pelicano, mantendo toda a calma do mundo, impassíveis.

Entretanto, outros indivíduos são mais ariscos, não apreciando muito a presença de humanos e outros animais. Nem todas são amigas de gatos ou cães, mas, dentro da própria espécie, as capivaras são muito sociáveis, vivendo em grupos que variam de 10 a 40 indivíduos.

As mães cuidam dos filhotes em regime comunitário, e todo o grupo os protege, dando até caronas nas costas durante o nado. Em relação aos humanos, Hosoi menciona que, se o grupo estiver habituado à convivência, aproximações são viáveis, mas cuidado: os machos mais fortes do grupo costumam se posicionar entre a manada e possíveis predadores, que podem muito bem ser pessoas.

Considerando seu peso considerável, o roedor pode ser perigoso, pois morde para se defender e é capaz de matar cães de pequeno porte com relativa facilidade.

Além de serem encontradas em todo o Brasil, as capivaras habitam quase toda a América do Sul, exceto o Chile, onde os Andes dificultam sua sobrevivência, impedindo que cheguem à costa do Pacífico. Mesmo assim, muitos países importaram exemplares para zoológicos, ampliando sua presença global, conforme relata o veterinário.

Curiosamente, as capivaras são uma grande atração no Japão, onde se descobriu que os grandes roedores adoram as águas termais conhecidas como “onsen”. Muitos zoológicos do país tornam sua visita uma atração principal, realizando competições para ver qual indivíduo consegue permanecer mais tempo nas águas quentes ou qual come melancias mais rapidamente, por exemplo.

Apesar de serem semelhantes e causarem confusão, capivaras e pacas são espécies diferentes, embora todas pertençam à mesma classificação dos caviomorfos, que inclui também preás, cutias, maras, porquinhos-da-índia e pacaranas, por exemplo. Taxonomicamente, é como a diferença entre cães e gatos, que compartilham a mesma posição na ordem dos carnívoros, mas são bastante distintas, segundo Hosoi.

Embora não sejam oficialmente o animal símbolo ou mascote de Blumenau, há tantas capivaras na cidade catarinense que o roedor acabou se tornando um símbolo da região, virando mascote do time de futebol Blumenau Esporte Clube (chamado Bequito), por exemplo. A presença de muitos rios e nascentes, aliada à falta de predadores naturais, possibilitou uma grande população de capivaras na localidade.

As capivaras são excelentes nadadoras, conseguindo prender a respiração por até cinco minutos — quando se sentem ameaçadas, mergulham e se escondem sob a água até que o perigo passe.

Seu pelo, embora pareça macio, é na verdade bastante áspero, pois evoluiu para secar rapidamente. Alguns descrevem o ato de acariciar o roedor como “fazer carinho em uma vassoura”.

De acordo com o especialista da USP, as roedoras produzem dois tipos diferentes de som, conhecidos como assovios e latidos, que lembram o chiado que fazemos e os sons que os cães emitem, respectivamente.

As capivaras, quando não estão infectadas por patógenos, são inofensivas à saúde humana. Recentemente, surtos de febre maculosa associados ao roedor despertaram receios a seu respeito; no entanto, qual é o risco de se aproximar delas?

A questão é que, conforme Hosoi, as capivaras podem ser hospedeiras do carrapato-estrela (Amblyomma cajennense), que pode ser vetor da bactéria Rickettsia rickettsii, responsável pela doença. Outros mamíferos, como cavalos e cães, também podem carregar o carrapato, não sendo exclusivo das capivaras.

Em vez de temer as roedoras, é mais sensato verificar os avisos de saúde em sua cidade: se houver notificações sobre casos da doença ou a presença do carrapato, é melhor evitar o contato com os animais, mas, na ausência de notificações, não há motivos para preocupação.

Vale lembrar, no entanto, que, como outros mamíferos, a capivara também pode ser vetor de raiva, leptospirose, leishmaniose, doença de Lyme e outras condições potencialmente fatais, assim como a própria febre maculosa, que é mais comum entre os filhotes, já que, após sobreviver à infecção, tornam-se imunes.

Na dúvida, é melhor conter a vontade e não se aproximar de capivaras silvestres — prefira interagir com animais que têm suas necessidades e cuidados bem atendidos, como os de zoológicos ou centros de reabilitação, que garantem a segurança do público e a saúde dos animais. Assim, além de evitar sustos, você ajuda a preservar a fauna silvestre.

Edição: Augusto Dala Costa

Fonte: https://canaltech.com.br/meio-ambiente/por-que-a-capivara-virou-um-bicho-tao-querido-e-popular-no-mundo-todo/