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A falta de fiscalização tem permitido que rotas clandestinas entre Corumbá e a Bolívia sejam amplamente utilizadas para o transporte irregular de mercadorias e outros atravessamentos ilegais. Em um dos acessos irregulares, uma viatura da Receita Federal se aproxima para uma abordagem de rotina quando um veículo emerge repentinamente de uma estrada na mata. Ao notar a presença dos fiscais, o motorista realiza uma manobra brusca e desaparece rapidamente, evidenciando a necessidade de reforço na vigilância da região.

Pontos Clandestinos e o Impacto na Região

Estima-se que pelo menos oito acessos irregulares conectem o Brasil à Bolívia, servindo como corredores para diferentes tipos de atividades, incluindo o contrabando de mercadorias como combustíveis, vestuários e alimentos. Além disso, esses caminhos podem ser utilizados para outras práticas ilegais, como o tráfico de drogas e o transporte irregular de pessoas. Esse fluxo também afeta cidades bolivianas, resultando em desabastecimento de produtos essenciais, como gás de cozinha e alimentos.

Do lado brasileiro, os acessos clandestinos se interligam a rotas secundárias conhecidas como “cabriteiras”, facilitando a distribuição de mercadorias dentro e fora do estado. Os grupos envolvidos nessas atividades ilícitas utilizam tecnologias sofisticadas, como câmeras de segurança e comunicação por rádio, para monitorar a presença das autoridades e evitar apreensões.

Desafios na Cooperação com a Bolívia

A ausência de uma fiscalização mais rigorosa por parte das autoridades bolivianas contribui para a continuidade do problema. Ao ingressar no país vizinho, a única exigência é o pagamento de um pedágio, sem uma fiscalização efetiva. Autoridades bolivianas justificam essa prática com base no Tratado de Roboré (1958), que permite livre circulação na região fronteiriça.

Para evitar fiscalização, grupos que operam nessas rotas clandestinas utilizam sinais visuais, como panos vermelhos e brancos, para indicar a presença ou ausência de autoridades no local, facilitando a passagem de veículos. Essa movimentação ocorre a poucos metros do Posto Esdras, a aduana brasileira, onde constantemente são registradas apreensões de mercadorias irregulares e transporte clandestino de trabalhadores.

Segurança na Fronteira e Medidas em Discussão

Apesar de operações pontuais das autoridades brasileiras, como a recente Operação Ágata conduzida pelo Exército, a falta de um plano contínuo de segurança dificulta a fiscalização efetiva. Nos últimos anos, a Câmara de Vereadores de Corumbá tem solicitado o retorno do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), que atuou na região até 2021. A ausência desse reforço policial resultou em uma sensação de maior vulnerabilidade para a região.

Diante desse cenário, algumas soluções estão sendo avaliadas. A Receita Federal planeja reforçar sua equipe e equipamentos, além de considerar a instalação de barreiras físicas, como guard rails, nos pontos mais críticos da estrada municipal. Outra proposta é a reabertura do leito do Córrego Arroyo Concepción, que anteriormente servia como obstáculo natural para a passagem de veículos clandestinos, mas foi fechado por intervenções municipais.

A necessidade de uma atuação mais firme do Estado e de uma maior cooperação internacional torna-se essencial para garantir a segurança e reduzir os impactos das atividades irregulares na fronteira entre Corumbá e a Bolívia.

Fonte: https://www.campograndenews.com.br/brasil/cidades/sem-repressao-crime-organizado-controla-as-rotas-clandestinas-na-fronteira