
O crime organizado tem modernizado suas operações na fronteira de Corumbá, utilizando câmeras de vigilância para monitorar estradas vicinais e garantir a passagem de cargas ilegais. Traficantes e contrabandistas estruturaram um esquema sofisticado, instalando equipamentos de monitoramento e cobrando “pedágio” em rotas clandestinas utilizadas para o transporte de drogas, armas, mercadorias e veículos roubados.
Controle Total das Rotas Clandestinas
Pelo menos uma das chamadas “estradas cabriteiras” – rotas alternativas para driblar a fiscalização – é vigiada em tempo real, permitindo que os criminosos acompanhem qualquer movimentação das forças de segurança antes de liberar a travessia das cargas. Além das câmeras, os criminosos utilizam olheiros e sinais disfarçados, como bonecas de pano, para indicar se o caminho está livre.
Infraestrutura Criminosa na Estrada do Jacadigo
Na Estrada do Jacadigo, localizada na divisa entre Brasil e Bolívia, criminosos se apropriaram de terras brasileiras para erguer estruturas de apoio ao contrabando. Imóveis construídos na área servem de base para controle das vias clandestinas, determinando quem pode ou não transitar. Cercas são frequentemente abertas para facilitar a passagem de veículos, e o pedágio ilegal é cobrado não apenas pela travessia, mas também como suposta “garantia” contra apreensões.
Mesmo com esforços das autoridades para dificultar o acesso, como a escavação de valas em 2021, os criminosos rapidamente restauram as passagens, assegurando a continuidade das atividades ilegais. Nos últimos meses, sete câmeras utilizadas para monitorar a presença policial foram removidas pelas forças de segurança.
Sete Pontos de Travessia Ilegal Identificados
Levantamentos da Receita Federal identificaram ao menos sete rotas clandestinas na fronteira, todas situadas a menos de dois quilômetros do Posto Esdras, ponto oficial de entrada entre Brasil e Bolívia. Além disso, construções erguidas nessas áreas avançam sobre território brasileiro, invadindo terras pertencentes à União.
Trilha do Gaúcho: Outro Ponto Crítico
Outra rota estratégica utilizada pelo crime é a Trilha do Gaúcho, localizada próxima à rodovia Ramão Gomez e ao Posto de Fiscalização Esdras. Além do contrabando de mercadorias, essa trilha é utilizada para entrada ilegal de estrangeiros no Brasil, sem passar pela fiscalização migratória.
O avanço dessas rotas clandestinas desafia as autoridades, que intensificaram operações para conter a entrada de produtos ilegais. Em 2024, as apreensões na região ultrapassaram R$ 38,2 milhões, incluindo:
✅ 257 kg de cocaína e pasta base (700 kg apreendidos em todo o MS);
✅ 102 kg de maconha e skunk (5 toneladas no MS);
✅ 1 kg de MDMA (droga sintética);
✅ Retenção de cigarros e mercadorias diversas.
Repressão ao Crime na Fronteira
Ao longo de 2024, foram realizadas 46 operações na fronteira de Corumbá, resultando na apreensão de cargas ilícitas e na destruição de pontos de travessia clandestinos. As ações contam com o suporte das Forças Armadas, Polícia Federal, Polícia Militar, Polícia Civil e Ministério da Agricultura, além de colaborações com prefeituras e governo estadual.
Mesmo com os esforços de repressão, o crime organizado segue inovando e expandindo sua estrutura na região, tornando o combate ao contrabando e tráfico de drogas um desafio constante para as autoridades.
Fonte: https://folhams.com.br/2025/02/18/com-cameras-criminosos-controlam-estrada-e-cobram-pedagio-na-fronteira-de-corumba/#google_vignette